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 Laboratório Lapd Dental


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A Prótese e a 3° Idade

Aspectos Importantes na Prótese Total para a 3a idade

Auxiliar

Colaborador



Fernando Luiz Brunetti Montenegro
Leonardo Marchini
Ruy Fonseca Brunetti

“Como publicado no Capítulo 18 do livro: Prótese Total Contemporânea em Reabilitação Oral, Cunha,VPP;Marchini,L. São Paulo, Editora Santos, 2007, p.177-194“

“Ter dentes, a despeito da saúde, significa resgatar o passaporte para a cidadania“
Ruy Fonseca Brunetti

 

 

INTRODUÇÃO

Graças a políticas de melhor saneamento básico, vacinação, antibióticos (ainda mais com os genéricos), com medidas preventivas de saúde geral divulgadas para a população e com maior cobertura da saúde pública, tem se observado um aumento significativo da expectativa de vida das pessoas, quer vivam em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Na Odontologia, por conta do sucesso das medidas preventivas estabelecidas nos países escandinavos em meados do século 20 e depois difundidas por todo o Mundo, inclusive com a constatação do importantíssimo papel do flúor somado às técnicas de escovação /fio dental e controle dietético, que ajudam a dominar a doenças bucais de maior incidência: a cárie e as gengivites/periodontites, fazendo com que as pessoas cheguem a idades mais avançadas com mais saúde geral e maior número de elementos dentários presentes e desta forma, neste início de século, podemos considerar convictamente que: vive-se mais anos, com melhor saúde geral e bucal (do que nos últimos 500 anos) e, com certeza, mesmo no Brasil que conhecemos, chega-se à terceira idade com mais dentes remanescentes, fugindo-se assim do edentulismo e suas conseqüências psicológicas, nutricionais, sociais, empregatícias, mastigatórias e semiológicas (quando próteses mal adaptadas permanecem por muitos anos) e até na diminuição da expectativa de vida dos idosos e de sua QUALIDADE DE VIDA.

É evidente que todas estas boas missivas não são aplicáveis a todas as cidades, bairros e zonas rurais brasileiras, já que se opondo às condições precárias de vida no agreste nordestino, vale do Jequetinhonha e nos bairros periféricos das grandes metrópoles, temos Veranópolis e Feliz (RS) e muito bairros/cidades de excelente infra-estrutura de Saúde do Brasil, um país, que por suas dimensões continentais, têm estas diferenças sociais tentando serem constantemente mitigadas por nossas autoridades, quando se mostram imbuídas de real preocupação com as desigualdades, mas mesmo assim, não parece ser irreal ponderar que as pessoas vivem mais anos (de 51,4 anos em 1960 para 71,3 em 2000) e com mais dentes/saúde bucal (redução de cárie de 48 % em escolares de São Paulo em 20 anos e nos EUA, de 7,4 dentes naturais mantidos (1960) aos 65 anos, para aproximadamente 20 em 2000.

Convém salientar que ter 20 dentes remanescentes (em média) nos idosos é garantia de melhor saúde geral e maior sobrevida, como observável nos fundamentais estudos de SHIMAZAKI e colab. (2001) no Japão e de SHEIHAM e colab. (2001) na Inglaterra, que envolveram entrevistas, exames clínicos, análise de amostras sangüíneas e de qualidade nutricional de número significativo de idosos, inserindo a Odontologia no contexto da Gerontologia de forma inquestionável.

Por tudo aqui exposto vê-se que ter dentes, em boa quantidade e que propiciem uma mastigação eficiente, garante maior sobrevivência com menor morbidade e é exatamente aqui que entra a importância de termos boas próteses totais agindo, especialmente na terceira idade (ETTINGER, 1997), para que auxiliem na reintegração social (o chamado resgate da cidadania) necessária para uma velhice saudável, dando uma abrangência social muito maior à Odontologia (e a seus inúmeros clínicos gerais), uma integração com a Medicina e outros membros da equipe interdisciplinar dos idosos hospitalizados ou internados e mudando o estereótipo elitista que a sociedade faz da Odontologia e mostrando às autoridades a necessidade de incluir nossa profissão no contexto do Programa de Saúde da Família e para as Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, criando um campo de trabalho promissor para milhares de colegas desesperançosos dos rumos atuais da Odontologia brasileira.

São com estas idéias em mente, especialmente quando vemos a alegria de um idoso em voltar a mastigar adequadamente (e do bem que ele nem mensura para sua saúde geral) e de outros poderem conseguir um emprego (necessário na realidade de nossos idosos frente a um desemprego crescente dos mais jovens por conta da globalização/reengenharia das nossas Empresas) em uma sociedade tão competitiva e implacável, é que o convite para escrever este capítulo muito nos dignifica, pois advém de profissionais abnegados que há mais de 20 anos labutam incansavelmente na recuperação estética e funcional de nossos concidadãos brasileiros.

 

MUDANÇAS QUE LEVAM AO EDENTULISMO

É muito comum na clínica geriátrica encontrarmos pacientes que usam suas próteses totais (ou pela abreviatura PT, daqui por diante) por muitos anos, sem terem jamais retornado a um consultório dentário para controles. Como um desdobramento desta atitude desenformada acaba por, inicialmente, deixar de usar a prótese inferior - especialmente porque segundo MONTENEGRO (1989), é a arcada que sofre maior reabsorção óssea com o passar dos anos.

Mesmo antes de abandonar a PT inferior, por força desta desadaptação da base, os contatos oclusais haviam sido alterados e com as sobrecargas ocorridas, tanto lesões em tecido mole, como movimentos de báscula na mastigação, causaram fraturas de bordos ou mesmo de toda a prótese. Normalmente, julgando-se um técnico, conserta suas próteses (ou as deixa quebradas), sem que as causas de tais fatos tenham sido investigadas.

Como o conserto foi inadequado - ou não foi realizado- a perda de equilíbrio/confiança mastigatória é presente e culmina com o abandono da PT inferior. As conseqüências mais evidentes: perda da Dimensão Vertical de Oclusão (DVO), sulcamento da face, possíveis problemas na Articulação Temporomandibular (ATM), perda gritante da eficiência mastigatória (que obrigará a mudar a consistência dos alimentos e seu valor protéico) e embotamento social, um ponto muito importante para este indivíduo, pois preferindo ficar em casa ao se expor ao convívio social, se torna uma presa fácil para os processos depressivos, que podem ser multifatoriais, mas, com certeza, não ter dentes ou estes estarem em más condições estéticas e funcionais, são mais um dos gatilhos para estas patologias, de grande incidência entre os idosos.

Para muitos autores, e em particular para BRUNETTI; MONTENEGRO (2002), este embotamento social, é o início de um processo que irá levá-lo a uma morte antecipada. Explicando melhor: no pensamento mecanicista que –infelizmente - ainda rege nossa profissão, uma vez feitas as PTs, nossa missão está terminada. Não há uma preocupação em seguir o caso (até para ver como seu trabalho tem funcionado - até vista como uma curiosidade profissional e correção de falhas ocorridas), falar da necessidade imperiosa de reembasamentos parciais e totais e quando o paciente telefona, os incômodos citados são classificados como o “o sr. tem que se adaptar”, “é assim mesmo” reforçando a crendice popular que “a prótese deve formar um calo”, mesmo que o CD não tenha dito com estas mesmas palavras. Nosso crescimento como classe perante a comunidade deve ter este grau de especificidade técnica e não só o de comprar equipamentos “up-to-date” que obrigarão a aumentar preços e elitizar ainda mais sua clientela, já muito escassa atualmente.

Entregar instruções impressas (e com letras grandes, face à deficiência visual dos idosos) ao instalar os trabalhos, para que o paciente tenha como reler estas importantes informações  no ato de entrega das próteses, é um ato que dignifica nossa atividade profissional e serve como um guia constante aos pacientes de terceira idade..

A figura clínica deste “calo” é geralmente uma lesão de mucosa, que além de muito dolorida inicialmente (e até cancerizável, se unida a fatores desencadeadores), além de obrigar o paciente a mudar sua dieta, com o passar do tempo o levará a deixar de usar a PT inferior.

Como o paciente não procurou mais a clinica, o processo ocorre sem que nada saibamos e a reabsorção óssea vai crescendo dia-a-dia, até que não será possível mais realizar novas PTs, pois não restou área basal de suporte.

Poder-se-ia partir para uma dentadura implantosuportada, mas como pensar nesta hipótese com a achatada classe dos aposentados brasileiros (74,7 % recebem de 1 a 3 salários mínimos por mês)? Falar de implantes na classe média-alta e alta/milionária do Brasil é viável, mas em que porcentagem estão no total da população? Pensando neste enorme contingente de pessoas é que devemos manter sempre acesa a chama das Próteses Totais convencionais bem realizadas, como é a tônica deste excelente livro, pois nossa possibilidade de atendimento social é muito maior do que nas reabilitações implantosuportadas.

E porque a morte antecipada? É um grande erro pensarmos que muitos pacientes vivem sem próteses e estão muito “bem” na Terceira Idade. Além da comprovação científica feita por SHIMAZAKI e colab. (2001) e SHEIHAM e colab.(2001),que comprovaram que os idosos com dentes em bom estado de conservação vivem mais anos e em melhores condições de saúde geral , é muito importante ter dentes por questões nutricionais, em particular o preparo do bolo alimentar para o início do processo digestivo. Muitos idosos têm problemas de transito estomacal (já esperado na terceira idade) aumentados pela ingestão de fármacos diversos (com seus efeitos colaterais também na boca), mas também complicados por um bolo alimentar que não está corretamente umectado, fracionado e macerado, e que chega a um local já comprometido fisicamente por úlceras e sangramentos. Por força do incomodo que sofrerá, acaba por preferir alimentos mais macios, geralmente com muitos carbohidratos, mas de valor alimentar crítico. Não comendo produtos saudáveis e consistentes, emagrece e se ainda usava aquela PT desajustada, acaba por abandoná-la e o círculo vicioso se fecha ,obrigando a mais remédios para curar sua condição anêmica, mas que também têm vários efeitos colaterais no corpo e também na cavidade bucal. Mais doenças = mais remédios = piora na saúde geral e com o passar no tempo, somado a condição psicológica e social depauperada = morte previsível.

Podem parecer pensamentos funestos, mas veja o envolvimento das Próteses Totais (ou de sua ausência) no conjunto do processo. Nosso papel neste contexto é dotar os pacientes de uma condição mastigatória adequada, para uma melhor qualidade de vida especialmente na terceira idade, onde qualquer fator pode romper o delicado convívio que tem com todo seu organismo, pois sua reserva funcional para suplantar problemas de saúde é bem menor que em outras faixas etárias..

Quadro 1 – Comparações entre saúde física e bucal de usuários de Prótese Total e outros participantes (média de idade: 76 anos)


* Conforme McNaugher, Benington, Freeman, Gerontology, v.18, n.1, July 2001

E o que dizer daquela pessoa que por não ter dentes (ou não estarem em bom estado) não consegue a posição de trabalho que precisa para dar alimentação à sua família, por força de aposentadoria escorchante? Receber PTs pode ser um verdadeiro passaporte para sua cidadania, já que trabalhando alimentará sua família e será restaurada sua posição dentro do tecido social em que vive.

E aquela Sra. idosa que olha no espelho e vê seu rosto sulcado (também por perda de DVO) e pensa que poderia remoçar um pouco para ir ao “baile da saudade”, onde terá bons momentos de diversão: será que a Odontologia não poderia ajudá-la a enfrentar melhore estes anos “dourados” (SGARIONI (1999)?

Também a morte do cônjuge- um companheiro de 40-50 anos ou mais - segundo TURVEY e colab. (1999) - deprime sempre o quê permanece vivo e neste momento o papel da família é fundamental, pois muitos dos amigos também já se foram. Será nos preocupamos com isto em nosso consultório ou em nossa própria família? Não seria o quê permitiu a espantosa melhora daquela Sra. de 67 anos do primeiro caso: um suporte efetivo à parte psicológica do paciente, como SEGER (1992) já salientava com seu pioneiro livro de Psicologia aplicada na Odontologia?

Próteses totais bem adaptadas têm o poder de resgatar a auto-estima dos pacientes e isto pode nos ajudar muito no trabalho clínico. WOLF (1998), já afirmava que ela é geralmente diminuída quando da aposentadoria, na busca de empregos, ao olhar no espelho de forma muito crítica, em caso de luto, ao olhar-se e não ter os dentes, ao deixar de comer o quê gosta porque não pode mais mastigar bem, ao ir a uma loja/banco e pedir um simples financiamento/ empréstimo e tomar ciência de que tem que dar muito mais garantias do que uma pessoa de meia-idade (NUNES, 2001), ao ter trabalhado uma vida toda e ver que o quê ganha aposentado mal garante suas contas essenciais, ao ver que lutou por seus filhos uma vida toda e agora que precisa deles, eles estão batalhando pela vida com vigor e muitos não podem dar um suporte financeiro neste momento por também estarem desempregados ou ganhando pouco neste momento da economia brasileira.

Como se vê, muito mais do que “só “ser um bom  profissional , na terceira idade nossa faceta de psicólogo e de ouvidor precisa estar sempre ativa, pois o ser humano deve ser a razão de nosso atendimento e não só a eficiência técnica esperada.

GALTIESI (2001) propõe sermos profissionais com uma visão antroposófica da profissão, que busca o homem dentro daquela cavidade bucal e não apenas tratar de um conjunto de tecidos moles e duros. Encontrar o dono daquela boca - que muitas vezes leva a encontrar-nos - é um modo bem mais eficiente de fazermos nossas próteses totais serem mais bem aceitas pelos pacientes.